Veja a matéria que saiu da revista Galileu e entenda o por que dinheiro não traz felicidade! Como a matéria é muito grande, colocarei parte aqui e o link para quem quiser acompanhar a conclusão.
O que você quer da vida? Uma pergunta que nos fazem e nos fazemos cada vez mais. Mas a neurologia garante: a resposta complicou mesmo, porque nossas motivações evoluíram junto com todo o resto. O que nos faz levantar da cama, tocar clarinete, ir para a faculdade, fazer exercícios ou encarar um dia de reuniões é muito mais do que o salário no final do mês. Às vezes dinheiro até piora o rendimento de quem está interessado em se desenvolver. Resolvidas as necessidades básicas, o que nos move é uma exigência interna de autonomia, conhecimento, envolvimento e dinamismo. Na era da informação, esses fatores se tornaram ainda mais importantes. E é por isso que tantos pulam de galho em galho buscando algo melhor o tempo todo. Entenda por que a gente não quer só comida — a gente quer comida, diversão e arte.
QUERER NÃO É GOSTAR
Quando o psicólogo James Olds e sua equipe da Universidade McGill, no Canadá, descobriram, em 1954, que a busca pela satisfação, e a própria satisfação em si, acendiam a mesma região no cérebro dos ratos, não tinham ideia de que transformariam as crenças da época sobre nosso comportamento. Estudos posteriores feitos em humanos consolidaram a teoria de que somos impelidos a buscar prazer o tempo todo. Encaramos o estudo árduo antes do vestibular e enfrentamos o congestionamento até a praia pela recompensa final. Como explica o neurocientista Jorge Moll, do Instituto D’Or, na expectativa de viver algo que queremos, nosso cérebro já nos dá uma provinha da satisfação. Mas descobertas recentes mostram que a coisa não é bem assim.
Em experimentos que uniram ressonância magnética, exames de neurorradiologia e mapeamento de ondas cerebrais, o professor de psicologia da Universidade de Michigan Kent Berridge fez o achado mais significativo dos últimos 50 anos sobre nossa motivação. Ele descobriu que nosso cérebro tem dois sistemas de recompensa — um que nos leva a querer e outro que nos leva a gostar. Costuma ser uma operação conjunta: sua mente sente vontade de alguma coisa e, depois, prazer por conquistá-la. Essa venda casada sempre ocultou o fato de termos dois sistemas diferentes — mas que podem ser flagrados quando não estão em sintonia. Quando se usam drogas ou em situações de ansiedade e estresse, o “querer” é turbinado, e provoca a busca de uma recompensa mesmo que você não esteja tão a fim dela. Ou seja, você se motiva para conseguir algo que quer, mas não gosta.
Essa descoberta explica, na pressão do vestibular, alguém gostar de arquitetura mas estar cheio de gás para fazer medicina. Explica por que aquele emprego pelo qual você lutou é decepcionante de uma maneira que você nem sabe explicar, depois que conseguiu a vaga. E por que nenhuma empresa faliu seguindo o consagrado esquema de recompensas e punições: afinal, o cérebro dos funcionários quer esse esquema, só não parou para pensar se gosta dele.
BUSCA FRENÉTICA
Nosso cérebro foi desenvolvido para ser mais facilmente estimulado do que satisfeito. O que teve uma lógica evolutiva: as criaturas que se contentam com pouco tendem a se acomodar sobre a busca de comida ou um abrigo melhor e, assim, ter uma expectativa de vida menor. A natureza nos presenteou, então, com a insaciável capacidade de descobrir, explorar, querer mais. Jaak Panksepp, neurocientista da Universidade de Washington, passou décadas mapeando cérebros de animais para concluir que aquilo que conhecíamos como sistema de prazer não produzia tanto prazer assim. No livro Affective Neuroscience (Neurociência Afetiva, sem edição no Brasil), Panksepp afirma que o motor da nossa motivação está muito mais em buscar do que se realizar. É esse impulso que nos faz sair todo dia da cama — ou da toca. Em seus estudos, ele comprovou que mamíferos preferem procurar comida a encontrá-la de uma forma fácil. E que os seres humanos, muitas vezes, sentem mais excitação antes do que durante o sexo. Chamar de “prazer” esse estado que rege nossas motivações parecia inadequado; Panksepp então adotou a expressão “busca”.
A palavra tem ainda mais sentido agora que nos acostumamos a ver barras de busca em todas as telas. Outro fator que acentua a necessidade de checar a rede de 5 em 5 minutos é o que os estudiosos do comportamento virtual chamam de Fomo (sigla para Fear of Missing Out), síndrome do medo de ficar por fora do que acontece. “Fomo é um grande motivador do comportamento nos dias de hoje”, diz a co-fundadora da rede social de fotos Flickr, entre outros sites, Caterina Fake — o nome dela é esse mesmo.
Na ânsia de saber o que os amigos estão fazendo ou o que estão comentando na rede, agimos como os ratos do estudo que abriu o texto.
A verdade é que a tecnologia alterou muitos dos comportamentos humanos. “Coloque uma criança para jogar videogame durante a manhã e, à tarde, a leve para a aula bem tradicional. Não é de se estranhar que ela se sinta entediada”, diz o neurologista Marco Antônio Arruda, diretor do Instituto Glia e especialista em déficit de atenção. A busca pela recompensa diante dos olhos em vez dos ganhos mais para a frente explica a troca compulsiva de faculdades, a flutuação de empregos, a “crise dos 25 anos”. A vida moderna, como os entorpecentes e o estresse, motiva muito mais o querer do que o gostar. Com tantas opções disponíveis, fica mais difícil saber qual é o seu caminho. Para nossa sorte, o mundo moderno trouxe rotas alternativas.
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